Entrevista de Flora Refosco
Entrevista realizada por Lex
Pensei comigo "já que quero dividir minhas 'aventuras culinárias' com a família e os amigos, posso fazer isso em um blog. Talvez as descobertas sejam interessantes pra mais gente também".
Em primeiro lugar, comer e dividir a mesa são grandes prazeres. Que hora de comer seja gostosa é sempre fundamental para mim - assim como é fundamental nutrir o corpo com alimentos que dêem aquilo que ele precisa para funcionar legal.
O raciocínio é: cuidar para incluir tudo o que preciso, ao invés de excluir os alimentos com manteiga, farinha branca, açúcar, etc etc.
Então quando cozinho, procuro sempre unir estes dois aspectos.
Gosto demais de preparar pães, sempre estou atrás de descobrir novidades e os porquês nesse tipo de receita.
Como cresci em uma cidade pequena, estou acostumada muito à comida caseira da minha família, que é de orígem italiana. Não era tão comum a gente comer fora, e lá em casa sempre tivemos uma tendência ao "natureba". Isso explica o jeito que eu gosto de cozinhar, acho.
Agora, pensando nos costumes regionais, o que sinto mais falta de Santa Catarina são as confeitarias. Os doces são muito caprichados! Cuca, strudel, schnecke... mmm! Ultimamente tem aparecido cervejarias ótimas também.
E mesmo que se compre comida pronta, tem muita muita coisa artesanal.
Lembro por exemplo que, quando eu era pequena, melado a gente ia comprar na casa do senhor que plantava a cana-de-açúcar.
Já em São Paulo, o que conheço é quase que só comida de rua, e muito disso preparado em grandes quantidades, é uma abordagem mais impessoal. Restaurantes por quilo, padarias, pizzarias, barraquinhas de doce e de fruta, pastel...
Tem a ver com o cotidiano, com onde se passa a maior parte do tempo, na companhia de quem.
Por outro lado, São Paulo tem a história de abrigar todo o tipo de cultura, o que me permitiu conhecer coisas que nunca tinha provado antes: lámen, kebab, couscous, dahl.
Isso é apaixonante, tem algo novo o tempo todo.
Sem pensar muito, diria que meu ingrediente favorito é o trigo (seja em grão, farinha grossa, farinha fina).
É incrível a quantidade de texturas e de preparos que se tem com ele. É confortante, é versátil, satisfaz a fome.
Estou tentando achar uma receita de pão sourdough pra chamar de minha, mas ainda não tenho uma.
Uma receita que gosto de fazer e que ainda não teve alguém que não gostasse é o pão branco fofinho da Dona Lisete (publiquei com esse nome mesmo).
Gosto de ter pouco utensílios, que sirvam para muitas coisas.
Facas honestas e boas tábua de madeira são conta da maior parte do recado.
Espátulas de borracha e de madeira também estão sempre à mão, e no verão não dispenso o liquidificador (com ele saem muitos sucos, vitaminas, e alguns picolés de fruta).
Dou preferência à luz natural, que desenha sombras bonitas e expressivas, e procuro pensar com atenção aonde vai estar o foco.
Isso com certeza é influência do cinema! Trabalhando em filmagens, a gente é lembrado diariamente da importância do foco para contar uma história.
Fora isso, tenho uma quedinha por fotografia macro, mas no momento tenho um equipamento bem simples, então acabo brincando pouco com isso.
Amo quando encontro para ler blogs ou artigos de lugares onde a lógica da cozinha seja diferente da nossa.
Adoro essa troca de informação, e leio bastante em inglês para ter acesso a isso. Às vezes tem algo em espanhol, ou de Portugal, mas a maioria do que encontro de culturas diferentes vem em inglês mesmo.
Faz todo o sentido pra mim que o que eu tenho a dizer seja publicado bilingue, levando um pouquinho de Brasil para pessoas pelo mundo e que elas possam estar em contato comigo.
Na verdade, já faz 3 anos e pouco, e ainda estou descobrindo.
As duas coisas mais legais até agora são:
- o quanto ter um blog me instiga a registrar as experiências e a procurar saber os porquês - amo saber pra quê serve cada ingrediente em uma receita. Esse aprendizado vai dando autonomia para criar receitas próprias e para adaptá-las aos ingredientes que eu tiver à mão.
- a troca. Quando alguém comenta e me explica um jeito novo de fazer algo, o jeito como alguma receita se encaixa no dia-a-dia dela, ou quando uma pessoa comenta que aprendeu algo que pra ela é novidade (tipo o jeito de lavar salada). Ganho o dia.
O filme vai variar pensando em quais são os amigos a caminho, mas se depender de mim vai ser algum filme de adolescente dos anos 80. Por exemplo, amo John Hughes.
Para acompanhar, um chai gelado ou quente (de acordo com o clima), pipoca e cookies!
Quando estiver na dúvida se vai pra cozinha ou não, vá.
Dificilmente as coisas saem como a gente espera, o que está muito longe de ser um problema - é justamente aí que dá pra descobrir os "comos" e os "porquês".
Se não tem em casa os exatos ingredientes que se pede, precisamos usar a intuição.
Aí você começa a pensar "hum, dá próxima vez vou experimentar colocar menos água", "da próxima vez vou experimentar trocar a salsinha por coentro", "da próxima vez vou experimentar...".
É uma delícia, é empolgante.
E depois, não me lembro de um jeito mais simples e cotidiano de cuidar de nós mesmos e das pessoas queridas do que preparar alguma coisa de comer. Mesmo que seja só uma xícara de café e uma fatia de goiabada.
Nós entrevistamos Flora Refosco!
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"Quando estiver na dúvida se vai pra cozinha ou não, vá."
Olá Flora Refosco, conte para nós...
Como surgiu a ideia de dividir suas aventuras culinárias com o público da internet?
Pensei comigo "já que quero dividir minhas 'aventuras culinárias' com a família e os amigos, posso fazer isso em um blog. Talvez as descobertas sejam interessantes pra mais gente também".
De forma geral, como você aborda cada estilo de receita em seu site? Há algum tipo específico de receita que a agrade mais?
Em primeiro lugar, comer e dividir a mesa são grandes prazeres. Que hora de comer seja gostosa é sempre fundamental para mim - assim como é fundamental nutrir o corpo com alimentos que dêem aquilo que ele precisa para funcionar legal.
O raciocínio é: cuidar para incluir tudo o que preciso, ao invés de excluir os alimentos com manteiga, farinha branca, açúcar, etc etc.
Então quando cozinho, procuro sempre unir estes dois aspectos.
Gosto demais de preparar pães, sempre estou atrás de descobrir novidades e os porquês nesse tipo de receita.
Você é catarinense e mora em São Paulo. O que você apontaria de contraste entre a culinária dessas duas regiões? O que a agrada e a desagrada nesses contrastes?
Como cresci em uma cidade pequena, estou acostumada muito à comida caseira da minha família, que é de orígem italiana. Não era tão comum a gente comer fora, e lá em casa sempre tivemos uma tendência ao "natureba". Isso explica o jeito que eu gosto de cozinhar, acho.
Agora, pensando nos costumes regionais, o que sinto mais falta de Santa Catarina são as confeitarias. Os doces são muito caprichados! Cuca, strudel, schnecke... mmm! Ultimamente tem aparecido cervejarias ótimas também.
E mesmo que se compre comida pronta, tem muita muita coisa artesanal.
Lembro por exemplo que, quando eu era pequena, melado a gente ia comprar na casa do senhor que plantava a cana-de-açúcar.
Já em São Paulo, o que conheço é quase que só comida de rua, e muito disso preparado em grandes quantidades, é uma abordagem mais impessoal. Restaurantes por quilo, padarias, pizzarias, barraquinhas de doce e de fruta, pastel...
Tem a ver com o cotidiano, com onde se passa a maior parte do tempo, na companhia de quem.
Por outro lado, São Paulo tem a história de abrigar todo o tipo de cultura, o que me permitiu conhecer coisas que nunca tinha provado antes: lámen, kebab, couscous, dahl.
Isso é apaixonante, tem algo novo o tempo todo.
Você tem algum ingrediente favorito? Qual a receita de maior sucesso que você faz com ele?
Sem pensar muito, diria que meu ingrediente favorito é o trigo (seja em grão, farinha grossa, farinha fina).
É incrível a quantidade de texturas e de preparos que se tem com ele. É confortante, é versátil, satisfaz a fome.
Estou tentando achar uma receita de pão sourdough pra chamar de minha, mas ainda não tenho uma.
Uma receita que gosto de fazer e que ainda não teve alguém que não gostasse é o pão branco fofinho da Dona Lisete (publiquei com esse nome mesmo).
Correndo o olho na sua cozinha, quais utensílios você considera indispensáveis? Algum deles tem uma história bacana que você queira dividir conosco?
Gosto de ter pouco utensílios, que sirvam para muitas coisas.
Facas honestas e boas tábua de madeira são conta da maior parte do recado.
Espátulas de borracha e de madeira também estão sempre à mão, e no verão não dispenso o liquidificador (com ele saem muitos sucos, vitaminas, e alguns picolés de fruta).
Ao acessar seu blog, além do design, as fotos chamam bastante a atenção. Você utiliza alguma técnica de sua formação em cinema para dar um toque especial?
Dou preferência à luz natural, que desenha sombras bonitas e expressivas, e procuro pensar com atenção aonde vai estar o foco.
Isso com certeza é influência do cinema! Trabalhando em filmagens, a gente é lembrado diariamente da importância do foco para contar uma história.
Fora isso, tenho uma quedinha por fotografia macro, mas no momento tenho um equipamento bem simples, então acabo brincando pouco com isso.
Seu blog possui uma versão em inglês. O que a levou a optar por postar suas receitas em outra língua?
Amo quando encontro para ler blogs ou artigos de lugares onde a lógica da cozinha seja diferente da nossa.
Adoro essa troca de informação, e leio bastante em inglês para ter acesso a isso. Às vezes tem algo em espanhol, ou de Portugal, mas a maioria do que encontro de culturas diferentes vem em inglês mesmo.
Faz todo o sentido pra mim que o que eu tenho a dizer seja publicado bilingue, levando um pouquinho de Brasil para pessoas pelo mundo e que elas possam estar em contato comigo.
O que a experiência de ter um blog significa para você?
Na verdade, já faz 3 anos e pouco, e ainda estou descobrindo.
As duas coisas mais legais até agora são:
- o quanto ter um blog me instiga a registrar as experiências e a procurar saber os porquês - amo saber pra quê serve cada ingrediente em uma receita. Esse aprendizado vai dando autonomia para criar receitas próprias e para adaptá-las aos ingredientes que eu tiver à mão.
- a troca. Quando alguém comenta e me explica um jeito novo de fazer algo, o jeito como alguma receita se encaixa no dia-a-dia dela, ou quando uma pessoa comenta que aprendeu algo que pra ela é novidade (tipo o jeito de lavar salada). Ganho o dia.
O que tem pra hoje é uma sessão cinema com os amigos em casa. Qual filme você escolhe e qual receita o acompanha?
O filme vai variar pensando em quais são os amigos a caminho, mas se depender de mim vai ser algum filme de adolescente dos anos 80. Por exemplo, amo John Hughes.
Para acompanhar, um chai gelado ou quente (de acordo com o clima), pipoca e cookies!
Qual mensagem você deixaria para nossos leitores?
Quando estiver na dúvida se vai pra cozinha ou não, vá.
Dificilmente as coisas saem como a gente espera, o que está muito longe de ser um problema - é justamente aí que dá pra descobrir os "comos" e os "porquês".
Se não tem em casa os exatos ingredientes que se pede, precisamos usar a intuição.
Aí você começa a pensar "hum, dá próxima vez vou experimentar colocar menos água", "da próxima vez vou experimentar trocar a salsinha por coentro", "da próxima vez vou experimentar...".
É uma delícia, é empolgante.
E depois, não me lembro de um jeito mais simples e cotidiano de cuidar de nós mesmos e das pessoas queridas do que preparar alguma coisa de comer. Mesmo que seja só uma xícara de café e uma fatia de goiabada.
Obrigada Flora Refosco por responder nossas perguntas! Até breve
Publicado por Mélanie - 04/02/2014
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Flora lindona... tudo que faz é com muito amor...
Comentado por franiarq